... dia 13 de Maio, que me veio parar às mãos um ser amarelo, muito especial, o R. Um caçador nato, com genica e vitalidade. Muito carente de mimo e senhor da sua tigela. Pouco tempo depois de o acarinhar escrevi um texto que gosto de recordar neste dia. Vou partilhar convosco:
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O R e o irmão apareceram junto da casa da minha sogra, que mora no campo. Ela afirma que numa noite por volta do dia 11 de Maio de 2006 ouviu muitos ganidos, de choro... Noite em que foram abandonados?!?!
Mas deixo que seja o próprio R a contar o que lhe aconteceu:
Olá, eu sou o R.
Mas quando me chamam de anda, toma, bicho e me assobiam eu vou sempre ter com a pessoa que me chama.

Sou muito obediente, meigo e tenho uns belos olhos azuis esverdeados que fazem sonhar qualquer um... mas a minha vida ultimamente tem sido um pesadelo! A minha mãe desapareceu, os meus irmão também, inclusive a pessoa que me alimentava...
Não vos sei dizer a minha idade... talvez 3 meses... Esta ultima semana foi tão dolorosa para mim e custou tanto a passar que podia até dizer-vos que tenho 3 anos. Mas infelizmente sou um bebé... um bebé abandonado ao seu destino.
Quando dei por mim estava sozinho com o meu irmão, perto de uma casa. Não conhecia a casa. Chorávamos muito, tínhamos frio,tínhamos medo, e começávamos a ter fome.
Não nos afastámos muito da tal casa naquela noite e nos dias seguintes. A erva alta abrigava-nos e protegia-nos do frio. Os poucos restos de comida e a água do gato da casa enganava o nosso estômago, à mistura com um pouco de erva que comíamos... sim, erva... quando a fome é negra come-se qualquer coisa.
Por 2 ou 3 vezes fomos corridos pelos donos da casa. Ouvimos dizer:
- Só aparecem aqui animais abandonados. O ultimo foi um gato, ao qual já nos tínhamos afeiçoado mas, que ao fim de um ano de muito apego e carinho, após ter ficado preso nas armadilhas dos caçadores, não podendo andar, foi atropelado. Se nos apegamos a estes cães e depois acontece algo de mal, sofremos outra vez. É melhor correr com eles.
Por conta disto apanhamos com um banho e uns palavras de desprezo.
Entretanto perdi o meu mano, nunca mais o vi. Agora sou só eu, sozinho. Mas ainda há a esperança de conquistar o coração das pessoas desta casa, afinal sou tão meiguinho e encantador eles vão apaixonar-se por mim com certeza.
No sábado ouvi uma voz nova naquela casa e resolvi tentar novamente impressionar... Era uma mulher mais jovem que os donos da casa. Aproximei-me dela devagar e ouvi:
- Oh que cãozito tão giro!!
E ao mesmo tempo que a jovem se baixa para me agarrar, sinto uma pazada no rabo muito ao de leve no rabo, era a senhora mais velha a mandar-me embora. Fugi assustado para as ervas.
Mas finalmente senti que alguém tinha começado a ficar impressionado com a minha presença. Comecei a ouvir: Anda... anda... toma... Era a jovem a chamar por mim. Aproximei-me dela devagar. Ela agarrou-me ao colo e levou-me para perto da casa.
A senhora mais velha deu-me um pouco de comida. Comi tudo... tinha tanta fome que parecia um aspirador, o chão ficou limpo.

Comecei então a perceber-me dos seus ares de preocupação de volta de mim...
Ao que parece perdi o meu irmão mas arranjei uma boa centena de “amigos”. As minhas orelhas estavas pretas por dentro: Carraças. O Pêlo estava cheio de bolas gordas: Carraças. A barriga estava cheia de pequenos bichos pretos: Pulgas. O meu pêlo estava baço e sem brilho.
Deram-me novamente um pouco de comida, e... discretamente fui beber a água do gato. Aparentemente não se importaram.
A jovem mulher fez-me muitas festas... foi tão bom! Pensei que nunca mais na vida ia receber festas. Depois ela foi embora...
Entretanto os donos da casa foram comprar um pó e esfregaram-me todo com ele, foi bom, parecia uma massagem. Ouvi eles comentarem que era para matar os bichos do meu corpo. Eu não me importei que eles morressem, já estava a gostar mais daquelas pessoas que daqueles amigos que me sugavam o sangue!
Quando anoiteceu fui chorar um pouco para a porta da casa dos senhores, tinha frio! Disseram-me para estar calado, e eu fiquei. Eles já me tinham ajudado tanto que não quis abusar da paciência deles! Fui dormir para o meio das ervas.
No Domingo... Surpreendi-os logo com a minha agradável presença à porta! Deram-me comida, água e mais uma massagem com aquele pó para matar o resto dos meus amigo!! Felizmente já muitos deles tinham desaparecido.

De tarde apareceu novamente aquela senhora jovem. Fez-me muitas festinhas. Tirou-me uma farpa que eu tinha debaixo da língua, que me andava a incomodar há muito, por ter comido ervas para matar a fome.
Foi passear comigo, sem trela, e eu portei-me muito bem, ia colado aos pés dela e não me afastava nem 30 cm.
Depois tirou-me umas fotos... até achei piada! Confesso que sou muito fotogénico, mas... como podem ver 1 dia após me terem ajudado ainda ando com o rabo entre as pernas e tenho aquele olhar triste... de quem foi abandonado neste mundo tão cruel para um cachorro.
Estou a aproveitar ao máximo as festas, a comida, a água, mas tenho medo que me abandonem outra vez, não sei o que o futuro me reserva, mais frio, mais fome...
Ouvi eles dizerem que iam cuidar de mim, disseram que eu ia ganhar um banho, comida para cachorro, umas coisas chamadas vacinas...
Eu, donos já encontrei... adoptei estas pessoas de coração!