Que titulo tão tentador, pensei eu quando vi o livro... tão tentador que trouxe o livro comigo!!
É um livro pequeno que se lê rapidamente. Contém uma história simples, vulgar, e sem grande invenções, mas... escrita de uma forma tão envolvente e especial que se torna difícil não gostar do livro.
O autor brinca com as palavras, faz corte e costura com elas, inventa-as. Usa expressões próprias do dia a dia dos povos de África. Uma escrita que recorre a mitos e lendas moçambicanas. Usa expressões que misturam o Português de Portugal com o Português Moçambicano.
É fácil gostarmos das personagens com carisma e com uma quase total ausência de maldade. São pessoas reais, como todos nós, que sentem medo, que amam, cometem erros, mentem, dizem a verdade, acreditam em superstições, ...
Difícil foi escolher um trecho para aqui colocar!!! São tantos, tão "deliciosos" e alguns hilariantes...
E foi sucedendo que, de tanto sentar esperando, as suas partes baixas foram, como ele mesmo diz, descendo, foram descendo, descendo. Das virilhas baixaram para os joelhos, dos joelhos para os tornozelos.
- É por isso que não largo as peúgas, as minhas intimidades andam a rasar o chão.
- Ora Bartolomeu, afinal tem medo de quê?
- Tenho medo de piar os tomates...
Não ri, tosse. O médico por simpatia, tosse também.
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O velho Sozinho insiste em invocar os tradicionais preceitos: fazer amor com uma virgem é o melhor procedimento para limpar os sangues. No fundo, ele não acredita muito nisso, mas a receita é bem mais apetitosa que as prescrições clínicas que atrafulham a sua mesinha-de-cabeceira.
- Antes eu recebia cartas; agora, escrevem-me receitas médica. O que agora tenho, ao lado da cama, não é uma mesinha-de-cabeceira. É uma mezinha de cabeceira.
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- Você, Mundinha -grita ele do fundo do corredor - você vai-me arranjar umas velas, desta vez eu quero soprar bem... setenta sopros...
- Você? você já não tem fôlego para apagar nem uma velita...
- Hei-de apagar. Se não for com um sopro é com um peido.
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Sidónio olha a figura esquálida do paciente e pensa que talvez ele esteja certo: tanta magreza, num organismo quase sem órgãos, pode albergar doença? Desengana-se, logo a seguir: aparatosamente, o velho esfrega com afinco os testículos, a mesma mão que andarilhou dentro dos calções roca-lhe agora as amplas narinas.
- Cheiram a naftalina. Os meus tomates cheiram a naftalina.
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E exibe a língua, olhos cerrados, boca escancarada. O médico franze o sobrolho, confrangido: a mucosa está coberta de fungos, formando uma placa esbranquiçada.
- quais fungos? - reage Bartolomeu. - Eu estou é a ficar branco de língua, deve ser porque só falo português...
E vocês, já leram?
7 Seres especiais comentaram :
Sem dúvida, muito interessante, eheh!
Acho que vais ler isso num instantinho.:))
Tenho-o aqui ao meu lado. Já o comprei mas ainda não está pronto para ser lido...
Vai ter que esperar...Podes ter ajudado. Depois digo qualquer coisa:)
Sim senhor... trechos que tornam o livro apetecível!
Gosteiiiiii...
Nunca ouvi falar e pelo título fugiria dele à sete pés, hehehe...
Não deixa de ser interessante pelo corajoso e controverso título, mas não me seduz.
Beijinhos e bom fim de semana.
Querida Gaspas, obrigada pela dica. Fiquei tentada :)
Não li mas gosto muito do Mia Couto, vou procurar e oferecer a uma amiga que vai para Moçambique.
Obrigada pela dica!
bj
Helia
Tenho de ler esse livro. Já agora, o Mia Couto é bem jeitoso. :P
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